Por Dr. Ricardo Afonso Teixeira

Ela tem crises de enxaqueca, como ela mesmo diz, desde que se entende por gente. As crises começaram aos 13 anos de idade, mais fortes no período próximo à menstruação, frequentemente acompanhada de náusea, intolerância à luz, cheiros e ruídos. A dor costuma ser forte, às vezes tão forte que as medicações que usa para abortar a crise não funcionam, e acaba procurando ajuda no hospital onde lhe é prescrito um remédio na veia que consegue aliviar o sofrimento. Isso interfere sobremaneira na sua qualidade de vida, mas não a deixava sem dormir pensando que pudesse ter outro diagnóstico diferente da enxaqueca.

Por vezes apresentava crises de vertigem, como uma “labirintite”, que durava dois a três dias e que foram identificadas como migrânea vestibular, um transtorno do sistema do labirinto associado à enxaqueca. Isso também não lhe preocupava tanto. Uma vez, antes do fenômeno doloroso, passou a enxergar flashes de zigue zague no campo visual direito seguidos por dificuldade em sem se comunicar. Isso gerou muito mais preocupação, pois tinha sido inédito e pensava que poderia estar acontecendo um derrame cerebral. Ficou mais tranquila com a transitoriedade do fenômeno, 20 minutos, e após consultar seu médico que lhe tranquilizou que os sintomas também podem acontecer em pessoas que sofrem de enxaqueca.

Mais recentemente, ela teve mais uma crise forte, mas dessa vez acompanhada de grande inchaço ao redor de um dos olhos com duração de poucos dias. O quadro a deixou muito angustiada e novamente interrogou se não poderia ter ocorrido um derrame cerebral. Seu médico a acalmou dizendo, mais uma vez, que o inchaço pode ser esperado em pacientes com enxaqueca.

Esse tipo de inchaço é decorrente de uma maior ativação do sistema parassimpático e é mais comumente encontrado em outro grupo de dor de cabeça chamado de cefaleias trigeminovasculares, como é o caso da cefaleia em salvas. É uma expressão do desequilíbrio do sistema nervoso autônomo no momento da crise e não é incomum entre os pacientes com enxaqueca. Estudos mostram que até 75% dos que sofrem de enxaqueca podem apresentar em algum momento sintomas disautonômicos cranianos que, além do inchaço palpebral, podem incluir lacrimejamento, congestão/corrimento nasal, pressão no ouvido, vermelhidão ocular, queda palpebral e rubor/suor facial. Os sintomas podem ser uni ou bilaterais e o inchaço palpebral pode ocorrer em um terço dos pacientes. E não tem nenhuma relação com derrame cerebral.